terça-feira, 22 de julho de 2008

O BATUQUE E FINAÇON


O batuque é considerado a manifestação musical caboverdiana de carácter mais nitidamente africano. Durante muito tempo, no período colonial, foi considerado como algo «selvagem» e repudiado pela Igreja, devido à sensualidade da dança que o acompanha. Contudo, no seu meio original, esteve sempre ligado ao ambiente familiar, às festas de casamento e batizados.
Trata-se de um grupo de percussionistas-vocalistas, normalmente mulheres que, sentadas em semicírculo, prendem entre as coxas um pedaço de tecido enrolado (às vezes envolvido num saco plástico). É esse o seu instrumento, assim como as palmas. Referências ao batuque no século XIX revelam que, nessa época, utilizavam-se também flautas, guitarras e cimboa, instrumento de origem africana, com uma única corda além da percussão e da voz.
Uma frase musical é cantada por uma solista e repetida pelo grupo. Esse canto desdobra-se em duas modalidades: sambuna (de carácter mais lúdico e rítmico) e finaçon, que versa sobre temas do quotidiano, estigmatizando ou louvando condutas ou personagens, podendo também tecer reflexões de ordem existencial. Determinadas batucadeiras, célebres pela habilidade na improvisação, são portadoras de uma verdadeira «filosofia» popular.

Ao longo da sessão, a «tchabeta» (som produzido por essa percussão, embora por vezes se utilize o termo para designar o tecido usado como instrumento) acelera e entra em cena uma dançarina para «dá cu torno» dança centrada no requebrar dos quadris, quase sem sair do lugar.

O passado e o presente
Admite-se que o batuque possa ter existido em outros pontos do arquipélago, povoados a partir de Santiago, mas actualmente, nesses moldes, existe unicamente nesta ilha. Assim como o funaná, tem a sua origem no meio rural, mas a migração de camponeses para a cidade da Praia, capital do país, levou ao aparecimento de grupos na zona urbana e a emigração fez com que surgissem também grupos em países europeus.

Tal como aconteceu com o funaná nos anos 80 do século XX, por volta do ano 2000 surge um movimento de apropriação do ritmo do batuque por parte de uma nova geração de compositores e intérpretes, levando a uma renovação deste género.

Ao mesmo tempo, os tradicionais grupos femininos proliferam e as edições de discos neste contexto são cada vez mais frequentes. Se há alguns anos as cantadeiras pareciam não ter seguidoras, hoje o temor pelo futuro do batuque está simplesmente ultrapassado.

FIGURAS DO BATUQUE E FINAÇON
Nha Nácia Gomi, Nha Bibinha Kabral, Nha Gida Mendi são cantadeiras de finaçon cuja produção foi recolhida e encontra-se registada em livro. A primeira, única viva entre as três, tem também gravações editadas em CD, assim como Nha Mita Pereira. Entretanto, nos últimos anos têm aparecido discos de vários grupos, como Pó di Terra e Terrero, entre outros.
O compositor Orlando Pantera, falecido em 2001 com pouco mais de 30 anos, permanece como ícone do movimento de renovação do batuque, mas várias vozes surgidas na mesma época já firmaram suas carreiras. Tcheka vai no terceiro álbum; Lura, dá uma guinada na sua carreira e torna-se uma verdadeira musa do batuque embora não se restrinja a este género, tal como Mayra Andrade, que se mantém como uma das principais intérpretes de Pantera. Outros nomes desta vaga: Vadú, Princesito, Djoy Amado, os dois últimos ainda sem gravar.

In Cabo Verde digital


SANTA - NHA FIDJU FÉMIA

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